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Para ler na escola



Autor:Carlos Heitor Cony


Os dias existem para que neles possamos fazer alguma coisa. Não precisa, necessariamente, ser útil, desde que consigamos fazê-las. Mas acontece que estamos fazendo mais coisas que os dias nos permitem (ou que comportam, ainda não sei) e aí acontece o famoso peso nas costas. Quero acreditar que (ainda) não é coisa da idade, nem má postura, talvez alguma sobrecarga de tarefas acumuladas que não damos conta de fazer no dia a dia. E foi num destes dias que resolvi ler “Crônicas para ler na escola”, de Carlos Heitor Cony. Comecei devagarzinho, pelas “orelhas” do livro. Depois cheguei à apresentação e então não resisti. Precisei sorrir um pouco, me esticar mais no sofá, deixar o peso nas costas de lado e delirar junto com o autor nas suas lembranças narradas na obra. Lembranças da infância, do primeiro estojo cheiroso (31), do primeiro notebook que não tinha cheiro algum, dos pêssegos que sua mãe comprava (89), do início de sua alfabetização dedicadamente feita pelo pai (45), do assombramento pelo batizado da bruxinha (25), da história mais bonita, das agulhas de Hiroshima que lhe doíam pelo corpo (101), do leite derramado que, na verdade, nunca fora derramado (103), dos apelidos que nascem não se sabe como e ficam não se sabe por quê (105). Textos de um Carlos que descobriu ainda pequeno que “quando quisesse poderia escrever o que sentia e até o que não sentia – escrever era coisa fabulosa. Melhor do que falar, porque quando se escreve é como se a gente falasse diversas vezes, primeiro consigo próprio, depois com os outros. Se houvesse outros”. Os outros existem. E são muitos. Multiplicados a cada instante pelo encantamento e pela graça que o autor consegue transmitir. “Crônicas para ler na escola” deveria sim, como sugere seu próprio título, ser levado aos bancos escolares e lido, um pouquinho por dia. Talvez assim o dia a dia não sobrecarregasse tanto, pelo menos para as crianças. Já para nós, os adultos, o melhor mesmo é aproveitar o sofá em toda sua extensão e rir. Pois como dizem, este ainda é o melhor remédio.